sábado, 13 de março de 2010

HORA DE ALÍVIO


Favor fechar a porta transparente aos ruídos da rua, meu coração precisa de tempo e silêncio...precisa velejar por águas rasas, voar rasteiro e muito alto, colhendo emoções.
Favor acreditar no que o silencio pede e adormecer na plumagem branca do sonho. Deixar de vez que a esperança, pena de pássaro que já voou por todos os cantos, possa chegar.
Favor fechar a porta e me deixar só por um instante, olhando o que mais me interessa nesta vida...a simplicidade de ser feliz, a morna maciez da sua boca-alimento.
Nada mais quero que muito silêncio rondando ao meu redor, com suas fitas e balairinas que dançam e entrelaçam o sossego. Quero também sons muito distante de trovões anunciando a chuva, chuva que tarda pelos caminhos azulados do céu e que eu feito planta tenho sede ampla de corpo e alma alimentados. Favor fechar também todas janelas, cortinas e fendas. Preciso da serenidade da penumbra, da vagarosidade dos reflexos, e, me nutrir assim das coisas que me faltam e que me falam aos sentidos.
Favor fechar as portas da fala, da audição. Favor trancar todos os choros nas gavetas vazias da saudade. Favor acomodar os sentimentos, as sensações e as verdades em lugares bem visíveis.
Favor florescer o vaso e expô-lo aos besouros.
Favor tirar as teias do ranso, atinar na alegria. Afinal, como depois da tempestade, também é hora de ver a vida se reconstruindo. Hora de afagar com alívio as mãos suaves que descosturaram ponto a ponto o bordado da manhã para colorir de azul as bordas da noite e sonhar.