terça-feira, 27 de outubro de 2009

Arquivo do querer


Enquanto o amor explica que o coração é uma caixa mágica que guarda diferentes formas e texturas, fico aqui pensando que o meu coração é um arquivo, onde guardo com carinho a fotografia do tempo. Livro de capa fina e transparente onde guardo ou armazeno meu quere e verdades, asas e sossego.Guardo vozes e essa folha de outono que são seus olhos. Morno e azul lugar onde o querer cava lentamente e vai esculpindo saudades. Um livro de lições, colorido. Estocagem e força. Forma delicada, o contorno da sua boca-beijo e infinito.
Pétala e folha. Sonho e calor, fala pouca.
Busco no funda da minha saudade virar páginas e páginas desse meu livro e fico deslumbrada com tudo que vi, senti, aprendi. Fico maravilhada com tudo de lindo que tive. Coleção de coisas suaves. Som fino de asas em voo. Arribação e pouso. Serenidade e gozo.
Fresta de janela aberta e muito sol lá fora...planície de margaridas em longas hastes. Toalha fina de mesa, mãos e anel sobre a renda. Vento morno, filho-feto me arredondando o ventre, crescendo para o mundo bem debaixo de meus olhos. Existe também chuva mansa, molhando a grama já molhada, abelhas castanhas e douradas revoando o doce das suas palavras...luz, bem querer e esperança!
Buscar no fundo azul do mar do coração a saudade, revirar esse meu velho arquivo do querer, com o mesmo querer das mães diante da divisão justa do alimento, com carinho idêntico. Revirar a doçura boa deste meu passado se acasalando com a felicidade que ora me habita.
Neste meu passado vivem muitos oceanos, pedras brancas e roliças, algas marinhas rendando recifes, fina areia nos pés.
Existe uma varanda inundada de lua, musgo e amor. Estrelas...Aldebarã, talvez. Tem saudade e solidão. Tem saudade e multidão. Tem inevitavelmente você. O hálito de sua boca que contorna todos os meus desejos óbvios, cheiro de vida e música.Suas doces palavras correndo pelos espaços íntimos. Seu riso sonoro. Tem você, mistura única de tudo e nada. Foto ou cópia de tudo que me fez linda. Coleção de muitos e mansos carinhos.
Arquivo do querer, festa e fantasia. Arco-íris e cavalos soltos. Querer pleno e absoluto. Força que vem e não força, apenas toca de leve como se acordasse o passado...e esse momento ainda quer nascer.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Todos os caminhos


O caminho que existe entre meus olhos e o seu olhar é a longa distância que o infinito põe entre o céu e a terra. Mas é pequena esta distância, porque o querer é um passarinho que voa ligeiro...pombo correio, pensamento.
O caminho que existe entre a minha mão e a sua é uma estrada em espiral que sobe muito. Topo de montanha, força estranha que que toca sem tocar.
O caminho que existe entre o meu caminho e o seu é um novo caminhar. Uma outra estrada que leva a tudo e nada. Nesta estrada descubro ávida de medo e deslumbramento as coisas que me faz menina, que nos faz meninos, donos de todo tempo.
O caminho que existe entre a minha boca e a sua fala, é o mais silencioso de todos os caminhos. Quieto e forte, de muito e tanto. Alimento.
O caminho que existe entre o que é e o que será, é algo sem segredo algum. História que só o amor conhece, percebe e tece. Espuma. Violão e seu canto. Palavra de algodão-doce. Vontade voraz de amanhã e paz.
Por todos os caminhos andamos em comum acordo. Cumplicidade. E sabemos que um dia estaremos tão antigos um para o outro, tão antigos. Repletos no conhecer mais verdadeiro, que só os meninos conhecem pela ausência do medo. Nus e sem mistério algum, como não tem mistério a abelha para a flor.
Então mais tarde, quando ainda não for tarde para nós, eu te olharei com sabedoria de quem tudo sabe e aceita de prontidão. Guardando sempre a certeza que os nossos caminhos, serão apenas os mesmos caminhos, de todos os passarinhos que já sabem voar.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Revelação

...este amor que teima fazer suas teias em mim.
Eu nada faço para impedir.
Nada retiro do sonho e nem tento decifrá-lo.
Alimento o meu peito de uma esperança que não se destina a mim.
Arredo-me um pouco mais para conter este amor.
E ele toma conta do meu corpo.
Contido que está, floresce-me.
Revela-se.
Este amor que teima em renascer de quando em quando,
É ainda alimento.
Água e fonte,
Canto e música do vento.
Revelação contínua.
Reinvenção de sentimentos, coisas que não houveram.
Pensadas, bastaram para existir.
E coexistem, verdades e desejos
Como se fossem novelos da mesma lã,
Entrelaçados.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Brincadeiras



Fala muito...
...mas quando me ouve, ou me vê,
se cala e nada diz.
E nos seus olhos lindos,
Você rindo quer indagar o segredo que há,
no arco-íris que vagueia entre seus olhos e os meus.
No semicírculo que traça
entre a minha casa e a sua,
crio uma linha.
Fico nua e teço a teia de nossas loucuras.
Brinco de ser sua prima,
prima-dona, dona.
Ora amante, ora menina.
Então me alimento do teu cheiro,
e loucas travessuras faço,
sem remorso para ser sua.
Mas amor, temo te amando.
Nossas mentes,
herméticamente fechadas,
não decifram o amanhã.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Com emoção e doçura


Como referência, tomo o rumo das brisas. Ainda não descobri onde ancorar este meu possível-barco verdade, se em recifes inundados de luz e rendas ou na transparência sonhada do cais.
como referência, tomo o rumo do sol que lindamente morre para renascer mais belo amanhã. Fecho meus olhos e desenho seu contorno vermelho, onde os olhos do amor pode enxergar sem receio. Lá no distante onde a restrição da visão só alcança segurando as mãos do amor. E quando guardo, guardo com as chaves do perceptível, porque é só assim que se tem plenamente.
Como referência, tomo o rumo das aves, pois se que guiadas pelo instinto conhecem melhor os caminhos dos céus e dos homens...e bato minhas asas com idêntica ansiedade, porque é preciso chegar.
Um dia me disseram que chegar é mais doce que partir, mas aqui dentro, me reservo o direito de ficar sempre, enquanto for preciso. Nada me convence que partir é o melhor caminho.
Como um garimpeiro sei onde anda escondido meu tesouro. Mágica situação me faz ser viajante. Mesmo que , estáticamente parada, pois pelos caminhos do meu pensamento estou sempre a procura de minha pedra preciosa. Que quando refletida em luz, nas palmas de minha mão em cuia, haverá de me dar a certeza de ser a mais bela de todas as pedras que reluzem. Pedra que guardarei como tudo que busco com determinação. Tenho uma coleção delas expostas em meus olhos e outras tantas que me enchem de luz quando estou feliz e verdadeira.
Como referência, procuro o rumo de suas mãos, embarcação de pluma.
Em todos os gestos desfolho a minha rosa dos ventos e ventanias...e quando ainda não for tarde para mim e nem para você, colocarei minhas rosas no vaso e sentarei na sacada. Cansada de te esperar, olharei tonta de emoção a doçura de nossas vidas.